Crônica

Procura-se
Murilo Moysés

Ela marcara às 5 da manhã com ele na Sé. Logo ali na saída da escada rolante. Que diabos, há mais de 30 dessas naquela estação. Devia estar louca quando marcou aquele local para o encontro. Mas não há de remediar o que remediado está. Subiu até a SSO e anunciou seu nome na SSO.
Esperou por 30 minutos, que diabos, não bastavam o horário e o local inadequados, ainda não comparecera ao compromisso. Será que não era aqui, pensou. Mas onde? Alguma estação grande, Paraíso, Clínicas, Consolação. Mil possibilidades e nenhuma certeza.
Não se deu por derrotada e foi por todas as estações grandes que pode pensar pensou e seguiu o mesmo processo. Não havia dúvidas que era impossível achá-lo. Era um vagabundo, pensou. Em cada SSO em que pedia socorro, perguntava se o fulano havia passado por lá. Negativo, sempre negativo. O elemento não deu as caras.
A essa altura já eram 10 da manhã, parou numa casa do pão de queijo, sentou em frente a um mapa do metro e começou a fazer contas. Quanto tempo levava para ir de estação em estação, fazer o anúncio na SSO, esperar 30 minutos e partir para a próxima.
Não dava para fazer em um dia. Maldito seja. Pensou nas punições para o sujeito. Mais uma hora, um tapa na cara. Duas horas, dois tapas. Três horas, um murro no estômago. Mais que isso, espancamento. Nada disso, vai estragar minhas unhas, pensou. Homem nenhum vale isso.
Será que me confundi, não era hoje. Era ontem? Não, ele teria ligado. Vai que ele passou por isso também. Meu Deus que eu fiz com esse homem, que judiação. Ele nunca vai me perdoar. Calma, não pode ser, você é muito organizada para isso.
É culpa dele, sempre é culpa deles. Melhor assim. Ufa.

Parou de pensar um pouco e decidiu voltar para a Sé. Anunciar mais uma vez na SSO e pronto. Iria esquecer o caso. Deus não quer a gente não faz.
Chegou à SSO, meio dia em ponto, encontrou uma funcionária e pediu o anúncio:
- Como a Sra. quer o texto?
- Assim ó: “Claudenir, favor comparecer a SSO”
- E o nome da Sra.?
- Maria Elisa.
- Que coisa.
- Qual.
- Tão engraçado.
- O que é engraçado?
- Ontem mesmo.
- Vixe!
- Um tal de Claudenir veio procurar uma tal de Maria Elisa
- É coincidência de mais, em 20 anos de trabalho nunca vi isso.
- É que..
- Não se preocupe, já vou anunciar já. Logo ele aparece.

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